quarta-feira, 16 de julho de 2008

As Competências de Enzima e o Contexto Profissional

Quando vamos a uma entrevista profissional, há sempre uma pergunta que não pode faltar:
-Das suas competências pessoais, quais as que considera mais relevantes para as funções a que se candidata?
A próxima vez que me for colocada esta pergunta vou responder:
-Penso que o aspecto que devo destacar mais é uma forte "capacidade enzimática" em contexto laboral.

O que levará o entrevistador a um dos seguintes pensamentos:
-Tem o cérebro completamente queimado! Não Serve!
ou:
-Tem a mania de filosofar, o que só serve para complicar! É melhor chamar o próximo!
ou:
-Vem-me para aqui com termos técnicos, nós precisamos é de pessoal prático! Eliminado!
ou, pode ainda acontecer que o entrevistador pergunte:
-O que quer dizer com a expressão "capacidade enzimática em contexto laboral"?

Nesta ínfima hipótese de o entrevistador admitir que pode aprender qualquer coisa com o entrevistado (o que nunca acontecerá se o entrevistador for o futuro chefe!) eu responderei:
-Com esta expressão quero dizer que tenho a capacidade de acelerar processos, isto é, que não me importa muito quem faz, ou como faz, o que importa é que os recursos da empresa sejam encadeados da forma mais eficaz possível de modo a que a produção também seja a mais elevada possível!
Ao que o o entrevistador pensará:
-Tal como eu pensava, bla, bla, bla, bla! Coitado, ele até pensa que tem conversa! Mas a mim não me alegra! Excluído!
Pensando melhor acho que vou preparar outra resposta para a referida pergunta!

Ainda assim, gostava de partilhar convosco (na improvável hipótese de ainda não me terem excluído da vossa selecção de assuntos interessantes para ler!) que acho que, as nossas empresas e instituições carecem de que os seus colaboradores apresentem atitudes que possam representar o mesmo papel que nos sistemas biológicos é desempenhado pelas enzimas. Isto é, o papel de catalisadores, o papel de acelerar processos de modo a que a produção seja mais rápida e mais eficiente.
Muitas vezes acontece que todos os recursos estão disponíveis, o capital, os recursos materiais, o conhecimento, os recursos humanos... mas falta quem ligue da melhor forma possível todos estes recursos de modo a torná-los mais rentáveis, aumentando assim a produção.
Pelo contrário, o nosso contexto de trabalho está normalmente impregnado de "inibidores enzimáticos", isto é, elementos que inibem a actividade dos catalisadores diminuindo assim a velocidade dos processos.

Cabe quem selecciona as suas equipas descobrir quais os candidatos que podem ser "enzimas" e excluir os candidatos com características de "inibidores".
Seguindo o mesmo raciocínio, cabe a quem gere as suas equipas providenciar para que as "enzimas" sejam promovidas e providenciar também para que os "inibidores" sejam motivados a mudarem de uma "atitude de inibidor" para uma "atitude enzimática", para que também eles possam ser promovidos.

O que eu não sei como é que se resolve é quando o chefe é o principal "inibidor"! Ainda bem que os sistemas biológicos não têm chefe!

7 comentários:

André Campos disse...

Os «recursos inibidores» andam amiúde enzima das chefias, lambendo-lhes proficuamente as botas, engraxando-lhes religiosamente os cus.
Por estas e por outras, a «atitude inibidora», que aliás implica doses de inteligência e esforço em geral baixas, vê-se enzima da sua arqui-inimiga «atitude enzimática» na Tabela das Mais Escolhidas pelo Homem-médio.
...
A tua última frase, na sua simplicidade, diz muito: e se os sistemas sociais, políticos e profissionais não tivessem, tal qual os biológicos, um chefe?

Bem-haja, amigo Rui!

Rui Lourenço disse...

O problema é que sem lideres penso que não poderiamos viver em sociedade. Assim, os chefes, na mairia das vezes pseudo-lideres, são um mal necessário.

Grande Abraço

André Campos disse...

É realmente muito difícil traçar um quadro social prático e realista sem incluir chefias. Ao mesmo tempo, e por outro lado, é preciso destrinçar o que são «chefias» e o que são «líderes», sendo que, ao que tudo indica, ajudava bastante que em cada chefe tivéssemos também um líder. Talvez resida aí, como tu pareces querer dizer, o c(h)erne da coisa.
Ainda assim, idealmente, agrada-me muito conceber uma sociedade anárquica, sem hierarquias, chefias impostas, policiamentos e burocracia. O caminho principal para esse magno destino teria de passar, creio eu, pela «Responsabilidade Individual» - a qual é diariamente rejeitada por cada um de nós, desaconselhada pelas intrincadas vicissitudes socias, desvalorizada pelos políticos e mandantes, e desprezada pelos média.
Bem-hajas,
(e que sorte a tua, hã!, que prenda de casamento essa! Muitos parabéns)

Rui Lourenço disse...

Tenho andado a pensar no caso das Abelhas!
"Alevantam-se-me" questões como:
Será este o modelo da sociedade perfeita?
ou será que que as abelhas entre elas também criticam a chefe?
Será a rainha uma daquelas lideres que nos permitiria viver feliz?
ou ainda, serão as abelhas realmente livres?

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André Campos disse...

As abelhas são livres como um passarinho!
Parece-me que o conceito e sentimento de Liberdade têm uma relação muito estreita com a consciência plena da situação presente do indivíduo - consciência das censuras a que está sujeito, sejam elas sociais ou políticas, sejam elas psicológicas ou religiosas, etc. As abelhas têm a consciência "limpa".
Será que existe alguma sociedade perfeita além da Utopia do Thomas More? Ou estaremos a nomear uma mesma coisa quando dizemos «sociedade das abelhas» e «sociedade humana»?

Rui Lourenço disse...

Talvez o problema seja que estamos a pensar de mais!
Se não tivessemos tanta consciência do que nos rodeia talvez fossemos mais felizes!
Que contracenso, ou talvez não!

André Campos disse...

Aaah isso traz-me à cabeça duas coisas: a "dor de pensar" do Alberto Caeiro; e a estória do João Sem Medo (a dada altura do seu percurso, numa bifurcação, João viu ser-lhe oferecida a possibilidade de seguir o caminho da Felicidade: bastava apenas uma coisa: que ali, naquela encruzilhada, deixasse a cabeça!).
A inteligência acarreta uma infelicidade boa. Ser estupidamente feliz é, até prova em contrário, uma merda.
Saudações