O Jornal Expresso apresenta nas páginas centrais da sua última edição um artigo com o título “Inevitável Declínio” sobre a desaceleração do crescimento da população portuguesa. Sou da opinião de que o assunto merece ser chamado às páginas centrais por ser de facto o maior problema do planeta nas próximas décadas (obviamente maior que a actual crise de capitais!). No entanto abordo o problema numa perspectiva completamente antagónica.
Na minha opinião, a diminuição da quantidade de população não deve ser encarada como uma fatalidade, mas sim como algo desejável. Devendo mesmo ser incentivada.
No mesmo artigo é referido que a população mundial crescerá entre o corrente ano e 2050 de 6,7 mil milhões para 9,4 mil milhões ou seja um aumento 71% em 42 anos! Só por si estes valores parecem-me assustadores, mas ainda assim apresento algumas perspectivas de análise para despoletar a discussão.
A terra é redonda e não está em crescimento, portanto a superfície habitável é constante, estará esta superfície preparada para receber tamanha quantidade de população humana? Com que outras espécies terá a espécie humana que competir?
Se já actualmente nos deparamos com problemas energéticos, por exemplo ao nível do petróleo, nos próximos 40 anos a procura de energia vai aumentar em pelo menos mais 71%, haverá energia para todos?O preço dos bens alimentares tem aumentado significativamente, se a população aumentar a procura também aumentará, não será o seu preço incomportável para muita gente?A produção de CO2, não obstante os esforços feitos em sentido contrário, continuará necessariamente a aumentar. Teremos o direito de continuar a prejudicar a saúde do planeta? E poderia também falar no problema da água!
É também necessário reconhecer que a diminuição da população acarreta também um conjunto de problemas, dos quais se podem destacar alguns.
A sustentabilidade dos actuais sistemas de Segurança e Protecção Social, os quais serão seriamente agredidos pelo envelhecimento da população e pela diminuição da população activa. Também toda a dinâmica macroeconómica será afectada, uma vez que esta assenta numa lógica de crescimento constante. Veja-se a crise actual de quase estagnação. Crescimento esse que necessita por sua vez do crescimento da população.
Fazendo um balanço, penso que os problemas ecológicos, de qualidade de vida e de sustentabilidade do planeta, não compensam os problemas económicos. Sou da opinião de que os economistas (a minha mulher incluída!) devem desenvolver esforços no sentido de encontrar as soluções e os mecanismos (e os governos devem aplicar essas medidas!) que permitam diminuir a quantidade de população mundial sem arriscar a protecção social e a crise económica generalizada, a qual implicará obviamente crises geopolíticas.
A questão é: Ou se incentiva a diminuição da população já hoje e se encontrão as soluções para os problemas criados, ou temos que encontrar as soluções para esses problemas daqui a 42 anos? Soluções essas que serão pelo menos 71% mais pesadas! É que o referido artigo também diz que a partir 2050 a população mundial começará a estabilizar em torno das 10 mil milhões de pessoas.
Em síntese, a diminuição da população mundial, não é um “Inevitável Declínio” mas sim um necessário Reequilíbrio Natural.
P.S.: Espero que quando eu tiver 72 Anos (2050) eu não venha a dizer: Já em 2008 eu tinha falado deste problema!
2 comentários:
Não querendo simplificar uma coisa insimplificável...
A sobre-população é, nos mais diversos níveis, uma das principais bases da nossa organização social. Quase por si só, ela justifica a burocracia excessiva, dá sentido ao falso securitarismo, conduz à concentração de poderes, leva à super-produção e super-distribuição, favorece a desinformação e propaganda, arrasa a massa crítica, inviabiliza uma educação e instrução diferenciadas, ..., enfim: se não tivesse aparentes raízes culturais, religiosas e económicas, pareceria ter sido feita por encomenda pelas classes dirigentes, tão ganhadoras ficam neste contexto. De resto, parece haver da parte destas classes um aproveitamento a posteriori. O caso português, e mais especificamente o de Lisboa, com o seu ordenamento de território, o seu mercado de trabalho, as suas vias de comunicação, a sua distribuição de riqueza, etc. - aponta para isso.
Excelente tema, amigo Rui.
Um abraço cá da outra ponta
O tema é bom, mas não está na agenda! Ou pior ainda, vai aperecendo de vez em quando, mas completamente ao contrário!
Era bom que os fazedores de opinião começassem a pensar o problema na prespectiva do planeta, e não na perpectiva do seu umbigo, ou melhor, do seu bairro e dos seus loteamentos, da sua reforma, da quantidade de pessoas necessárias para pagar os impostos suficientes para as suas mordomias, da sua "escala" de produção, etc, etc...
Grande Abraço André!
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